Misture uma porção de Stranger Things com generosas doses de Além da Imaginação e pitadas de Westworld na mente artística do sueco Simon Stålenhag e obtenha oito doses, ops, oito episódios da intrigante Tales From The Loop. Todas essas referências são facilmente encontradas na série, já famosa entre geeks por conta de sua versão RPG e cuja primeira temporada está totalmente disponível para os assinantes do Prime Video.
Devo avisar, no entanto, que se você gosta de histórias bem mastigadinhas, com início meio e fim bem definidos, esses contos podem não ser para você. TFTL se utiliza muito mais dos sentidos de quem a assiste, do que cada um sente ao ouvir a trilha sonora ou sob o sutil impacto visual, para criar uma experiência individual e, assim, contar a história. Não há explicação dos conceitos ou apresentação de personagens, não há melodrama ou comédia rasgada. A ideia é comunicar muito falando muito pouco.
Com exceção do primeiro e do último episódio, a série não está assim tão comprometida com cronologia. Tudo o que sabemos é as histórias se passam na fictícia cidadezinha de Ohio chamada Mercer que vive em função do laboratório de física experimental lá instalado. É justamente neste laboratório que se encontra o Loop, uma máquina ou um experimento desenvolvido para explorar os mistérios do universo. Nas palavras de um de seus desenvolvedores: “para tornar o impossível possível”.
Toda a cidade respira a estética rural-retrô-futurista de Stålenhag. Os personagens (recorrentes) não se espantam com o adverso, ou com o fato de esbarrarem em robôs abandonados no bosque da cidade ou mesmo com neve caindo ao avesso em uma cabana. Ou seja, é a visão de Stålenhag que ganha vida e, ao misturar o extraordinário e o mundano, torna TFTL tão original e atraente.
E tudo o que acontece de estranho, adverso ou mesmo paranormal está, de alguma forma, conectado ao Loop. Ecos do tempo, viagem no tempo, controle do andamento do tempo em si, dimensões paralelas, mudanças de corpos, identidade, segurança e controle, tudo isso acontece em Mercer sob a influência do Loop. A despeito de atuações tocantes como Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona), Jonathan Pryce (Dois Papas, Game of Thrones), Ato Essandoh (Altered Carbon, Blue Bloods) e da pequena Abby Ryder Fortson (Ant Man), as histórias são contadas através de mensagens simples, com um ritmo lento digno de Blade Runner. O resto é com você.
Pense em TFTL como um recado de que a tecnologia nunca vai nos nos corrigir ou completar totalmente, por mais promissora e bem desenvolvida que seja. Sempre teremos que seguir o passo da humanidade, pelo caminho mais lento, para preencher o vazio em nós mesmos na busca pelo sentido da vida, ou apenas na busca pelo outro. Não há tecnologia que nos faça lidar melhor ou pior com a aceitação, a morte, a ausência ou com a solidão.
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