Eu já quero começar dizendo que esse texto é a parte 1 de 2. Vou trazer argumentos à favor da união entre Kylo Ren e Rey, que os jovens chamam de Shippar mas pra mim era só flerte, ou paquera mesmo.
De qualquer maneira, esse é um dos temas centrais da nova trilogia de Star Wars, ao menos na cabeça dos fãs, ou daqueles malucos de inteligência duvidosa que povoam os grupos de fãs nas redes sociais. Mas como hoje em dia, tudo precisa de uma explicação muito clara e as pessoas aparentemente não conseguem pensar por si próprias, os filmes tentam entregar isso da melhor maneira possível. E nem isso é garantia de que a maioria do público vá pegar a mensagem.
O que é final feliz pra você?
Os personagens sempre terem sua alma gêmea ao final de todo um arco de evolução? Beijo? Casamento de fim de novela? Realização pessoal? Existem n definições, variando levemente em cada religião, ou filosofia, poesia, literatura, peças e… veja você, filmes. É mais ou menos como se fosse um prêmio?
O conceito de alma gêmea geralmente está intrínseco a amor, a cara-metade que te completa, duas almas se procurando para se tornarem uma, blá blá blá. O amor romântico definitivo, um estereótipo que vem, literalmente, desde o começo dos tempos. De acordo com o filósofo Aristófanes, “O Amor nasce em todos os seres humanos, tenta transformar dois em um e curar as feridas da natureza humana”. Profundo não? O ponto é que muitos de nós nunca vão encontrar, em meio a 7 bilhões de pessoas, mas ei, não desanime. Esse é precisamente o papel da fantasia na vida do ser humano: conceitos divinos refletidos na realidade, através de temas imaginativos, que se tornam palpáveis. Fantasia é o escape do ser humano, para fazer a gente se sentir melhor, enxergar algo de fascinante no mundo, além do preto e branco.
Essa é a razão por trás dessa obsessão que uma parcela dos fãs tem com essa união entre Rey e Kylo. Ainda que inconsciente, uma parcela dos fãs quer muito que isso aconteça, por que a união deles é a união de dois lados da mesma moeda. Pessoas que estão quebradas, procurando uma resolução, procurando entendimento e não encontram nem nas pessoas mais bem intencionadas à sua volta.
Pensa comigo: de um lado, Rey, a órfã esquecida. De outro, Kylo Ren, o filho privilegiado do maior casal de heróis da galáxia. E ambos se sentem isolados, cada um à sua maneira. Adam Driver, que interpreta Kylo Ren/Ben Solo, falou sobre isso numa entrevista recente à Vanity Fair:
“Se você é o produto dessas duas pessoas (Han Solo e Leia), com personalidades fortes e mais comprometidas com uma causa do que qualquer outra coisa, como as coisas funcionam então? Como formar laços e amizades nessa situação? Como entender o peso disso tudo?
Adam Driver – Kylo Ren/Ben Skywalker
Ben Solo era amado? Claro que era. Seu pai se sacrificou por ele em O Despertar da Força, mas talvez o problema tenha sido expressar muito tarde. Ben já estava sob a influência do Líder Supremo Snoke, ou até sob o comando de Palpatine, que está de volta pelo menos no trailer da Ascensão Skywalker, apesar de não sabermos exatamente como. A transformação de Ben em Kylo Ren pode não ter sido uma escolha. Ele pode estar sendo manipulado o tempo todo. O Livro Legado de Sangue já deixa claro, que Ben já era tentado desde a gravidez, DENTRO da barriga da Leia. Assim como Luke sentiu que havia bondade em Vader, Rey sentiu o mesmo em Kylo. E assim como foi em o Retorno de Jedi, Rey precisa acreditar nesse bem que existe dentro de Kylo.
Esse é o problema para uma outra parcela dos fãs. A ideia de que Rey, uma guerreira pura e uma heroína determinada, precisa NECESSARIAMENTE salvar o vilão. Redimir o cara malvado. O peso vai todo para os ombros dela e foca a narrativa nisso. E isso não seria justo, já que Ben escolheu seu lado e plantou o mal. Ele é mau e deveria morrer como o vilão que ele se deixou tornar.
MAS tem uma questão aí. Isso vai contra tudo que a gente sabe até o momento sobre os personagens, a trilogia e a saga. Redenção é um dos PILARES de Star Wars, mesmo após tudo que o Darth Vader fez, inclua aí genocídio, entre outras maldades, ele conseguiu ver a luz no fim do túnel nos seus momentos finais e se redimiu. A Força flui de maneiras misteriosas afinal e a Rey tentar restaurar o bem da única pessoa com a qual ela forjou um laço realmente importante não enfraquece a personagem. Ao contrário, prova que ela é capaz de perdoar e isso é uma prova de que a personagem é realmente boa.
ISSO é ser um Jedi, um guardião da paz e nem sempre resolver as coisas com um porrete de luz. Perdoar o outro é altruísta e isso é a essência da coisa toda. Para a Rey esse altruísmo ainda tem um outro aspecto, o desejo dela de ver o seu outro lado: unir a luz e a sombra.
Pensando aqui em Anakin e Padmé, seu amor impossível, que foi destruído pela Ordem Jedi e meio que sem querer, mas através do plano de Palpatine, criou o Império. Amor era proibido para os Jedi, o que fez com que eles escondessem a relação, que deu no que deu. Essa repressão do desejo pelos Jedi, foi o fim, a sua grande falha. Então para compensar a Força cria duas vidas super poderosas, de mundos e lados opostos, arrastadas para o conflito, tanto por destino, quanto por paixão? O amor romântico destruiu a Ordem Jedi e talvez seja a única coisa que possa salvar a galáxia, que vê a repercussão do conflito mais de 30 anos depois.
Cada uma das três trilogias tem um amor no seu centro. Anakin e Padmé, Han e Leia. Ambas terminaram em tragédia. E você pode ouvir por aí que Star Wars não é sobre romance e amor. Eu te digo o seguinte: Star Wars é EXATAMENTE sobre amor, em todas as suas formas. Claro que a relação romantica seria uma parte disso e isso não diminui a Rey se ela se sente atraída por uma alama gêmea, ou se ela procura por amor no Ben. Arcos de redenção em fantasia quase nunca são baseadas nos desejos da mulher, o que não quer dizer que uma mulher não possa ter desejos. E nesse caso da Rey e do Kylo, o desejo não é uma fraqueza, mas sim a força mais poderosa do universo. Esse amor dela pelo Kylo pode até não salvá-lo, pode não ser consumado. Numa dessa vai ser uma nova versão da tragédia Anakin/Padmé. Mas não dá pra ignorar o laço que eles tem e a natureza da ligação entre eles.
Como eu disse lá em cima, lados da mesma moeda. Arcos semelhantes, ainda que em caminhos opostos. Se virar romance, não prejudica a história, só engrandece. “A Escuridão cresce e a Luz vai ao seu encontro”. Foi o Snoke que disse, não eu. Tava lá na cara o tempo todo.
Fonte: Nerdist
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