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A princípo, você, caro procrastinador, pode pensar que esse será um post comparativo de duas versões do amado coringa nas telonas, mas não, acalma-se, abra uma coca-cola e venha entender o porquê desse título.

Trata-se de algo que vai além de páginas de HQs, de um ícone da saga de vilões dos quadrinhos, de um palhaço sociopata, do que um seria killer com transtornos mentais transformados em ataques de risadas, trata-se de uma metáfora muito bem descrita de dois pontos sociais que passam despercebido em nossa remota ignorância.

Pode-se dizer que foram duas performances distintas, em tempos diferentes, uma criada em 2008, e outra 11 anos depois, performances criadas sob roteiros diferentes, sob propostas diferentes, e até mesmo, sob públicos diferentes. Por mais que a figura seja o coringa que amamos, o famoso inimigo do morcegão, tanto Leather quanto Phoenix não criaram um vilão como vemos por diversas vezes, que quer dominar o mundo e causar um genocídio por um propósito único. Na verdade, os dois coringas que vimos no cinema foram uma representação utópica, até mesmo dentro de um cenário político (independentemente de posicionamento), de um descontentamento social.

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A diferença entre essas duas interpretações dadas brilhantemente pelos atores, é que Heath Ledger trouxe uma visão anarquista sobre essa mesma representação, uma visão de massa, na qual ele mostra, dentro desse contexto social, que o poder deve ser daqueles que podem tomar por si só, sem que haja um grupo ou um representante no comando, não há um ideal, um motivo certo, apenas a necessidade de se bagunçar o sistema, de desequilibrar a balança social, como Alfred disse no filme: “Alguns homens só querem ver o circo pegar fogo”. Isso não significa que não havia um porquê em suas ações, significa que ele não precisava de um ideal para fazer o que fez.

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Do outro lado da mesma moeda, temos a também brilhante interpretação de Joaquim Phoenix, que trouxe uma visão libertadora, algo que na verdade, havia um porquê de fazer o que fez. Ele é a representação de uma sociedade que grita todos os dias por socorro mas que é abafado ao som de uma hipocrisia e uma falsa sensação de que está tudo bem e de que não temos nada com que nos preocupar. Ele mostrou, mais uma vez dentro daquele contexto social, que a única maneira dessa parcela social ser ouvida é através da força, através de um ideal de liberdade, ali ele não era somente o Coringa, ele era Arthur Fleck, esquecido por todos, mas que através de seu sofrimento e de sua frustração de não ser notado durante toda sua vida, tornar-se o representante daquela classe que muitas vezes é invisível e não consegue ter voz para falar de sua dor e sofrimento, mas que quando um cidadão decide ir em frente, mesmo que não tenha mais nada a perder, consegue finalmente ser ouvida.

Lembrando que isso não é um posicionamento político e nem uma comparação entre as duas performances, é somente duas visões de uma mesma figura, com propósitos diferentes e uma loucura intrigante. Coringa, ambos, não é somente o vilão do Homem-Morcego, ele é uma metáfora que se transfigura em um personagem tão complexo e instigante para que possamos contemplar toda sua genialidade e sua fome por bagunçar toda ordem vigente.

E você, procrastinador, por quê está tão sério? Quer ouvir uma piada?