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Quando fiz meu primeiro curso de Quadrinhos, com o mestre André Diniz, uma lição que nunca esqueci é que um quadrinho não pode ter nada sobrando. Cada quadro, traço, fala e página tem que ter uma função. E foi exatamente isso que eu encontrei quando li Parafusos, Zumbis e Monstros do Espaço e, mais tarde, voltei a encontrar o mesmo jeito incrível de contar histórias em Matadouro de Unicórnios (um quadrinho que VOCÊ devia estar lendo neste momento), ambos do paraibano Juscelino Neco.

A partir daí, pode-se dizer que me tornei fã do cara. O que é muito estranho, porque não sou dos mais viciados em coisas de terror, horror e gore. Mas nos trabalhos do Neco, fica quase impossível não se impressionar como ele consegue te prender e te tacar tanta coisa nojenta na cara.

Consegui bater um papo com o cara e, para quem não o conhece, já vai conseguir perceber o teor de suas HQs. Olha só:

ProcrastiNation: Não tem como não ler suas HQs e não se deparar com cenas viscerais. Em algum momento você teve que parar e redesenhar uma página por considerar ela “brutal” demais?

Juscelino Neco: Rapaz, eu não tenho esse tipo de pudores. Quanto mais gore, brutal e sangrenta a cena, mais eu curto desenhar. Acho que violência gráfica é uma das coisas mais divertidas e esteticamente estimulante que existem. Na verdade, acho que, no geral, estou produzindo um trabalho cada vez mais violento, extremo e de mau gosto. Eu anseio pelo momento em que os leitores vão olhar pro meu trabalho e dizer: dessa vez ele foi longe demais.

PN: As referências de filmes, livros e outras obras de terror, horror e serial killers estão bastante presente nas suas histórias. Você consegue ver alguma de suas HQs adaptada para uma outra mídia, como uma série ou filme, por exemplo?

JN: Acho que a maior parte da minha obra poderia ser adaptada pro audiovisual sem grandes perdas. Mas, ao mesmo tempo, não é uma coisa que eu anseie, ver um quadrinho meu adaptado. Gostaria de receber os royalties, obviamente, mas não é uma coisa que me interesse tanto. Acho que tenho mais interesse em fazer um filminho eu mesmo.

 

PN: Como você costuma trabalhar em suas histórias? Primeiro roteiro e depois páginas ou vai tudo ao mesmo tempo?

JN: Primeiro eu faço um roteiro rabiscado. Num caderninho, já fazendo uns desenhos toscos e colocando o texto. Pra mim, é a técnica mais fácil de visualizar a forma que a história vai assumir, em termos visuais. Depois eu escrevo um roteiro “literário”, pra mandar pro editor e pros amiguinhos. Só depois que o roteiro está bem consolidado eu começo a desenhar. E depois que começo a desenhar é bem difícil mudar alguma coisa no roteiro. Tenho uma preguiça absurda de fazer mudanças.

 

PN: Em uma briga entre o Gonçalo e o Dolfilander, quem você acha que consegue ficar de pé por último?

JN: Depende. Se for o Dolfilander antes das melhorias, acho que teríamos uma luta justa. Provavelmente, Gonçalo ganharia. Ele é um rapaz violento, ressentido e com muita raiva e frustração pra colocar pra fora. Agora, depois das melhorias, Dolfilander quebraria o crânio de Gonçalo como se fosse um amendoim.

 

PN: E falando em suas personagens. Como você as cria? É um retalho de várias personas ou é algo já mais definido?

JN: Putz, taí uma boa pergunta. Acho que eu sempre tenho uma ideia clara do núcleo do que é a personagem, esse miolo que define a personalidade. Depois, vou acrescentando trejeitos, contradições, falhas de caráter, manias, bizarrices e, principalmente, idiotice. Acho que a idiotice é o que faz uma personagem ser crível. O ser humano é um poço de estupidez.

 

PN: E o seu próximo trabalho, que vai ser uma adaptação do conto “Reanimator” do Lovecraft, o que podemos esperar dela? Já tem alguma previsão de quando será lançado?

JN: Vai ter tudo que meus trabalhos anteriores tiveram, mas com esteróides: sangue, violência, loucura, vísceras, monomania, fraturas expostas, humor negro, pornografia e gente burra fazendo coisas estúpidas. Eu sei que venho enrolando pra terminar, mas dessa vez tô terminando mesmo. Talvez saia daqui uns dois meses. Três, no máximo.