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Recentemente me peguei pensando em como ando consumindo muito da cultura asiática, mais especificamente produções japonesas. Fiz um levantamento por planilha que organizava todas as obras literárias que tenho em casa, e o resultado foi que a maior parte da minha prateleira é composta por mangás, os famosos quadrinhos japoneses “difíceis de se ler” (ou pelo menos é assim que meus amigos chamam).

Na verdade eu não tenho uma grande variedade de mangás, mas sim poucas séries com diversos volumes – como é o caso do meu querido Vagabond. Ah, um detalhe importante de citar é que essas coleções levaram alguns anos para ficarem completas, e o motivo é o seguinte: o preço dos mangás.

Sempre gostei muito de ler, em especial os quadrinhos, mas uma coisa que vem me afastando da leitura física é o preço desses itens em comparação à mesma obra, só que digital. Sem dúvida alguma que pra mim, uma adolescente sem minha própria fonte de renda, seria viável optar por um conteúdo o mais barato possível e que me agregasse mais (o famoso custo x benefício), ou seja, por que eu iria comprar uma só edição física de um livro se posso comprar três versões digitais dele pela internet?

A maior parte do público otaku (na definição br do termo) é composto por jovens que também não ganham seus próprios salários, então é um tanto lógico pensar que provavelmente eles têm esse mesmo posicionamento “economicamente consciente” na hora de consumir mangás ou animes. O lado ruim disso é que nem sempre todos eles optam por usufruir de conteúdo grátis com anúncio ou pagar somente o que é acessível (aka consumir menos). É desse jeito que a pirataria começa.

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Um dos grandes piratas da atualidade

Talvez porque eles não tenham condições de comprar, mas pode ser tudo culpa da naturalização da pirataria na cultura brasileira, ou vai que as pessoas simplesmente não se interessam por mangás… Todas essas são suposições válidas, mas de uma coisa eu tenho certeza: o preço alto nicha produtos para uma pequena parcela – da já pequena parcela – de pessoas interessadas pelos quadrinhos japoneses.

Graças à modernização é comum ler digitalmente. Milhares de pessoas usam o Kindle, outras costumam ler pelo Wattpad ou Spirit, portanto é válido afirmar que não estamos mais na era dos livros impressos, já que esses perderam boa parte do espaço no mercado global. A Amazon, por exemplo, costuma vender e-books por um preço baixíssimo, algo que é obviamente mais acessível do que um mesmo exemplar daquele, só que impresso. Com essa tecnologia, várias pessoas conseguem montar uma biblioteca digital cinco vezes mais vasta do que sua biblioteca física, e por isso elas tendem a optar por algo bom e barato.

É a mesma coisa com mangás: não vale a pena pagar de 15 a 20 reais numa edição física quando ela está disponível por um preço bem menor em várias lojas na internet, e até de graça se você for ilícito (não seja) ou ver legalmente e com anúncios. É bem burro uma pessoa sem condição financeira comprar várias edições de mangá nas livrarias físicas, isso é literalmente jogar no lixo um dinheiro que ela poderia investir outras coisas úteis, e por isso muitos escolhem consumir conteúdo pirata ou digital.

A indústria

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Com a indústria enfraquecida, a produção de mangás impressos caiu drasticamente, afinal a demanda só diminuiu dos anos 80 pra cá. Isso nichou os quadrinhos, tornou eles algo caro e limitado no Brasil. Só aí já temos dois pontos para o fortalecimento da pirataria: o aumento de preço e a falta de distribuição local (como também é o caso de tokusatsu, onde você só consegue consumir aquele produto ilegalmente).

Existem outras coisas que também influenciam no aumento de preço dos quadrinhos orientais e ocidentais no Brasil:

  • O acabamento estético que a indústria vem aplicando: ultimamente a maioria dos quadrinhos da Marvel e DC vêm com um acabamento incrível, é algo com papel refletivo e de qualidade, grande volume de páginas numa única edição (na maioria das vezes eles são antologias), detalhes na capa etc. Quadrinhos japoneses não fogem muito dessa regra: uma edição de Slam Dunk chega a custar R$ 20 (por ser muito polida), a de Fullmetal é cerca de R$ 15 (polimento mediano) e To Love Ru é menos de R$ 10 (poucas páginas, não muito polidas).
    Toda essa estética contribui para o aumento de preço, afinal os custos de produção são inclusos no preço final do produto, e então fica tudo mais caro.
  • A inflação brasileira e a alta do dólar (isso não é um assunto pra esse blog, mas você entendeu que é mais caro aqui do que lá fora).
  • A praticidade na hora de encontrar informações complementares sobre seus animes: normalmente as pessoas compram mangás para entenderem melhor o universo dos seus animes adaptados. O problema – para a indústria de mangás – é que a internet democratizou a informação, então em qualquer site você pode encontrar tudo sobre sua animação favorita, sem necessariamente ter que se dirigir até a banca mais próxima para comprar um exemplar impresso do mangá.
  • O desinteresse em ler: esse tópico é constituído somente em achismos, porque ao meu ver o entusiasmo pela leitura é praticamente inexistente nessa nova geração – da qual infelizmente pertenço. Talvez isso aconteça por existirem fontes alternativas de entretenimento, algo que não existia na época da ascensão dos quadrinhos. Antigamente todo conteúdo se resumia em livros e filmes/séries, uma coisa que claramente não acontece nos dias de hoje (temos consoles, por exemplo).

Resumo da ópera e possível solução

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Tô apostando que existe sim uma solução para o problema, e teoricamente não é tão complicado assim: produza mangás acessíveis, ou seja, com um baixo custo de produção (para que o preço não seja alto), de preferência em papel-jornal para baratear ao máximo. Caso haja demanda por quadrinhos esteticamente bem acabados, então produza para esse público também, só que em menor escala, algo como um conteúdo adicional feito para fãs assíduos dispostos a pagar por aquilo.

Eu sei que falar é bem mais fácil que fazer, mas não consigo ver uma solução para a diminuição do preço que não seja essa proposta – eu até ia defender que a valorização da nossa moeda também levaria à diminuição de preço, mas a indústria japonesa também sofre com isso, então não é um problema especificamente nacional. Claro que tentativas imediatistas para problemas sistemáticos são no mínimo precipitadas (e potencialmente errôneas), então o melhor a se fazer é uma análise profunda – por parte dos responsáveis – do mercado dos mangás desde seu apogeu até hoje em dia, e só então pensar nas possibilidades e aplicá-las cautelosamente. Em resumo, isso fica por conta deles, afinal esses caras manjam disso, não eu.

Se você for um mero leitor de quadrinhos japoneses, existem diversas formas de contribuir para que sua franquia favorita continue firme e forte no mercado. A principal maneira de ajudar é colaborar financeiramente, então tente consumir somente produtos licenciados, ou seja, que terão um retorno monetário ao autor. Isso implica em denunciar sites piratas e propagar ideias anti-pirataria (o que eu particularmente acho bem mais viável do que simplesmente tiltar com fansubs), mas principalmente se conscientizar sobre os males que a transmissão ilegal traz à indústria. Ah, você também pode divulgar com reviews, fanarts, análises etc seus mangás favoritos para amigos e/ou seguidores, afinal a união faz a força (e a ceia de natal de algum desenhista japonês).

Por último, vale destacar que esse texto não é um artigo super embasado sobre problemas estruturais na indústria dos mangás, mas sim uma análise da problemática com base em meus próprios conhecimentos e pesquisas de dados nas vendas dos quadrinhos. A finalidade não é expor os exatos problemas, mas sim supor quais são e mostrar que há algo errado, porque realmente há – e digo isso como consumidora assídua de mangás.

Você pode ver os links de auxílio desse texto clicando aqui.