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Se você consome produtos da cultura pop provavelmente já ouviu falar em HP Lovecraft, nem que seja só pelo nome. Nascido em 1890 lá em Providence (EUA), Howard Phillips Lovecraft é considerado um dos mais renomados escritores do gênero de terror, tendo influenciado até mesmo o grande Stephen King. Suas obras marcam presença pelo forte apelo ao desconhecido e perturbador, explorando monstros alienígenas milenares vindos dos confins do universo ou até mesmo de nossa própria estrela, mas que de qualquer forma sempre se tornam verdadeiros demônios durante as narrativas detalhadas e quase nunca solucionadas – outro ponto forte dos contos.

É bastante triste que, apesar de ser considerado importante nos dias de hoje, Lovecraft morreu no anonimato e sem receber o devido reconhecimento por suas incríveis criações. Além disso, por mais que a maioria já tenha ouvido falar em seu nome, não é todo fã de terror que leu os contos tão imersivos e fantásticos. Por essa razão decidi listar três motivos e três contos para você passar à conhecer a biblioteca de histórias de Lovecraft. Dito isso, vamos!

Motivo 1: os monstros

Talvez os monstros sejam o carro-chefe dos contos de Lovecraft. Sempre bem trabalhados para te deixar minimamente incomodado ao tentar formular aquilo na sua mente, os seus monstros são seres antigos de outros planetas – algo bem parecido com Alienígenas do Passado. Eles são idolatrados por cultos de terráqueos e muitas vezes têm passagem por religiões antigas, e na maioria das vezes nenhum deles têm uma explicação lógica para estar ali e fazer o que fazem – ou seja, sempre envolto à mistérios não solucionados.

A construção de monstros alienígenas de Lovecraft é tão boa que a imersão nos contos é absurda. Eles são tão misteriosos que vamos – juntamente com a personagem narradora – descobrindo pouco a pouco sobre o que são e o que querem, a ponto de causar uma certa agonia ao não conseguirmos compreender as coisas em sua totalidade (essa é uma frustração válida e presente em quase todas as histórias). Esse “molde” de criaturas é totalmente positivo se considerarmos que nós já sabemos muito sobre os monstros na maioria das obras de terror (como é o caso de zumbis e vampiros). Lovecraft cria uma nova besta a cada conto, é sempre impossível prever suas atitudes, então você nunca saberá qual é o próximo passo.

Ah, eu não poderia deixar de citar aqui que essas bestas são muito bonitas e originais. Existem algumas concepts circulando na internet que, com base nos contos, retratam os monstros de Lovecraft, e nelas podemos ver claramente que essas criaturas foram construídas com uma baita criatividade do autor: Cthulhu, por exemplo, é um ser com cabeça de polvo, gigantescas asas e mais alguns detalhes estéticos que só poderiam pertencer à um monstro perturbador.

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Cult of Cthulhu, Jon Torres

Conto 1: O Chamado de Cthulhu

Como citei o polvo gigante anteriormente, não posso deixar de recomendar a maior história de Lovecraft, O Chamado de Cthulhu.

Publicado em 1928, o conto de Cthulhu é a história sobre uma entidade alienígena muito antiga que é idolatrada por um culto aqui na Terra. Esse culto tem como objetivo trazer a criatura de volta à vida para uma espécie de apocalipse, e cabe à Francis Wayland descobrir mais sobre a religião e o seu próprio deus macabro.

Qualquer coisa além disso é spoiler, mas o resumão é que vale muito a pena ler O Chamado de Cthulhu. O conto é dividido em três partes e é bastante curto até, então certamente tomará pouco do seu tempo. Eu considero essa uma boa introdução ao universo aterrorizante de Lovecraft, afinal é bem rápido e objetivo, você facilmente entenderá a proposta do autor. Se quer conhecer os alienígenas antigos, você precisa ler isso aqui.

Motivo 2: mistérios não solucionados

Mistério foi um bom motivo pelo qual Night of the Living Dead (1968) foi um sucesso – e marco – em seu lançamento. Naquela época ninguém entendia os zumbis tal como conhecemos hoje (eles estavam acostumados com o arquétipo de “caminhantes escravos enfeitiçados”, não com esse lance atual de mortos-vivos), e por isso era bastante difícil descobrir sua finalidade no contexto da obra. Mesmo no final do filme a gente não sabe o que ou quem causou aquela onda de andarilhos canibais, portanto o mistério dos monstros é mantido em toda a história.

Depois de alguns contos de Lovecraft, você vai perceber que não solucionar mistérios era uma coisa que o autor gostava muito. Por se tratar de terror cósmico e psicológico (explorando a mentalidade humana), os contos nunca dão muita pista da razão daquilo tudo estar acontecendo. É provável que tenha uma interrogação gigante na sua testa no momento em que terminar uma obra – ou pelo menos é o meu caso. Vamos ter a chance de presenciar o desconhecido tal como os primeiros telespectadores do clássico de George Romero.

Conto 2: A Música de Erich Zann

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Por Chad O’Dell Roberts.

Publicado em 1922, esse conto é a narração de um estudante que aluga um quarto numa rua bastante suspeita e mórbida, um lugar afastado que quase ninguém ouviu falar. No andar de cima reside Erich Zann, um músico que vive tocando uma estranha melodia. O novato se atrai pela peculiaridade da música de Zann e decide se aproximar do tocador, e é por aqui que tenho que parar para evitar spoilers.

Esse conto é um dos melhores do autor – sim, eu falo isso pra todos. Não existem monstros alienígenas multimilenares aqui, mas em compensação há um forte apelo ao mistério do terror cósmico e à capacidade humana de comportar tamanha informação que fura a barreira cética e niilista. Esse é um dos exemplos de como Lovecraft sabe trabalhar bem focando mais em personagens do que nas aberrações em si, mesmo que essas estejam direta ou indiretamente presentes em todas as suas obras.

É certeza que você vai gostar de conhecer Erich Zann, afinal todo mundo gosta – todo mundo menos aquele estudante infeliz.

Motivo 3: perturbação

Desde os mais chulos até os blockbusters, estamos cansados de gritos e mais gritos em filmes de terror. Claro que ser perseguido por bonecos assassinos ou por um cara que se veste com as roupas da sua falecida mãe são coisas que dão medo, mas tenho pra mim que os piores tipos de terror são os psicológicos e cósmicos, aqueles que vão além da nossa compreensão e podem nos prender em loopings eternos de tortura e dúvidas. Se você também pensa assim, então os livros de Lovecraft são perfeitas indicações.

Focando sempre na futilidade da nossa existência, Lovecraft nos apresenta um universo onde nós não somos os protagonistas, mas sim meras pulgas no vasto quântico que nos rodeia. A apresentação na maioria das obras é a seguinte, bem clara e objetiva: somos limitados e eles não.

A falta do antropocentrismo é algo bastante perturbador aqui, afinal como raios vamos lidar com seres que vão além da nossa compreensão!? Não existe polícia que salve nessa hora, nada pode te tirar do buraco que é ser insuficiente. É enfrentar ou correr, ninguém vai te salvar deles. Para todo o sempre terá que lidar com a ciência do desconhecido e a certeza de que não passa de um verme.

Conto 3: Sussurros Na Escuridão

Mais perturbador do que Cthulhu e Erich Zann, Sussurros Na Escuridão foi publicado em 1931 e narra a história de um fazendeiro que é constantemente perturbado por caranguejos espaciais (??) que moram na escuridão das montanhas há muito, e não se sabe muito bem a razão deles estarem em nosso planeta.

Esse é com certeza um dos mais interessantes e perturbadores contos de Lovecraft, nos levando a sentir na pele os medos e agonias que ambos os protagonistas sentem durante a trama. Não é exatamente um conto curto como os outros dois – na verdade ele pega um livro completo -, mas ainda sim merece bastante atenção por se tratar de uma história intrigante.

Sussurros Na Escuridão te prende do início ao fim numa grande montanha-russa de emoções e esperança. Você facilmente vai se apegar às personagens e se ver igualmente sem saída, desejando nunca ter entrado nessa treta toda. É uma excelente leitura para quem já tem algumas experiências com os livros de Lovecraft e quer avançar um pouco mais em sua obra.