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Esqueça os complicados imbróglios da Aliança Rebelde com a Federação de Comércio, o Senado, a República e até mesmo o Império. Você não precisa estar inteirado do cenário geopolítico, basta saber que o Império não existe mais e que existe uma bela parcela de universo longe dos planetas centrais daquela galáxia muito, muito distante.

Assim, numa zona distante conhecida como a Orla Exterior, temos o cenário ideal com a exata atmosfera faroeste a ser explorada e protagonizada justamente pelo enigmático caçador de recompensas mandaloriano (Pedro Pascal) conhecido apenas por Mando, cuja armadura remete imediatamente ao familiar Boba Fett e famoso dentro e fora da Guilda pela excelência de seus serviços. No decorrer da narrativa, somos levados ao universo particular deste homem misterioso, seus traumas e desventuras, seus métodos de ação e sua relação com os demais mandalorianos.

Atenção pois deste ponto em diante temos alguns spoilers da série

Toda a dinâmica de apresentação do personagem é bem construída e flui em paralelo com a apresentação da doutrina mandaloriana em si. Mesmo por traz do capacete que nunca deve ser retirado na frente de outros seres inteligentes, é possível perceber a sagacidade e até mesmo uma espécie de expressividade nas interações do nosso herói. Um típico cowboy, o herói solitário, discreto e silencioso que compartilha suas emoções apenas quando necessário. E quando o faz, convence. Ponto para Pedro Pascal, obviamente! Chama atenção também o seu rígido código de conduta e respeito aos seus princípios ainda que conflitantes com algum dos códigos sociais. Essa personalidade lhe imputa um tanto de credibilidade e garante valiosos aliados – belíssimos coadjuvantes e belíssimo elenco (como Nick Nolte, Gina Carano e Carl Weathers), por sinal – principalmente depois que Mando subverte o código da sua própria Guilda e assume a guarda de uma valiosa criança que deveria apenas entregar ao seu contratante (vivido por Werner Herzog).

Toda a temporada, que aliás tem um formato ótimo de oito episódios com cerca de trinta minutos cada, gira em torno da proteção e guarda dessa criança até que se saiba como garantir definitivamente a segurança dela. No meio do caminho alguns episódios parecem supérfluos, descabidos. Soando como uma despretensiosa aventura de RPG: se Mando precisa de dinheiro, aceita uma missão como mercenário; se precisa reforçar sua armadura, se aventura para garantir o necessário e tudo isso sem muito impacto na narrativa principal ou na trama como um todo.

Apesar da estética minimalista característica de um bom faroeste, muitos detalhes da produção são puro capricho. Como a trilha sonora que não é John Williams mas vem de outro vencedor do Oscar, Ludwig Göransson que ele compreende perfeitamente a atmosfera necessária para dar o tom da trada e do protagonista. Também merecem destaque as primorosas ilustrações que compõem os créditos finais, diferentes a cada episódio. Tudo isso, aliado a personagens bens construídos, acabam por dar ao fã da franquia o acalanto de que muitos ficaram carentes com os dois últimos longas da saga original. Os showrunners Jon Favreau e Dave Filoni trouxeram uma bela gama de diretores emergentes para conduzirem os episódios porém o excesso de liberdade pode ter sido responsável pela montanha russa do resultado. Destaques para Taika Waititi, que já foi indicado ao Oscar de diretor e também faz a voz do android IG-11 na série, e Deborah Chow, que conduzirá série de Obi-Wan Kenobi com Ewan McGregor.

Para nossa alegria, Jon Favreau compreendeu a essência do que de mais pop há no universo Star Wars fora dos núcleos dos personagens principais e temos uma obra com dois objetivos básicos: agradar os fãs e vender produtos. E aparentemente deve se sair bem sucedida em ambos. A série parece ter sido pensada já para a segunda tela: a repercussão dos episódios quase que instantaneamente via redes sociais e o fato que que muitas cenas já nascem praticamente com um respectivo meme a tiracolo.