A gente bem sabe que a escalada do Covid-19 bem parece coisa de ficção científica e que o assunto tem fascinado os aficcionados em modelagem de dados ao mesmo tempo que deprime aqueles mais impressionáveis e suscetíveis ao confinamento (voluntário ou não). A gente também sabe que a quarentena está demorando mais tempo do que desejávamos para terminar então, para ajudar a passar o tempo, ou mesmo dar uma mãozinha para aproveitar o break no home-office, vamos listar aqui algumas séries (ou temporadas ou episódios aleatórios) que resgatamos do inconsciente coletivo da cultura pop. A proposta é sair do lugar comum das obviedades mais recentes como Stranger Things, Mr. Robot, The Mandalorian, Clone Wars, Star Trek, Watchmen, entre outros e lembrá-los de algumas pérolas talvez esquecidas que podem nos trazer algum acalanto nesses tempos de pandemia.
15) Supernatural
Não sou a pessoa mais indicada do mundo para falar de Supernatural afinal não sou fã do estilo e nem fã ardorosa da série, mas reconheço o apelo e o impacto das aventuras sobrenaturais dos irmãos Winchester e do anjo Castiel para uma bela parcela de nerds fãs do sobrenatural. Os caras ganharam até um crossover com Scooby Doo, oras! Tenho que respeitar! Assim, fica aqui a recomendação para incluir a 5a temporada (2009 com 22 episódios) nos seus planos para a quarentena. Esta foi a última temporada de Eric Kripke – o criador da série – como showrunner. Como encerramento do primeiro ciclo dramático da narrativa, os heróis enfrentam Lúcifer e protagonizam alguns dos melhores episódios de toda a série, como “Sympathy for the Devil“, “Abandon All Hope” e “Hammer of the Gods“.
14) Black Mirror
Numa distopia que questiona a relação humana com a tecnologia e a hiperconectividade, a proposta é mostrar em hipérboles – que podem beirar o absurdo – um futuro não tão distante onde a humanidade perde o protagonismo para a inteligência artificial. A série é adorada principalmente por quem não testemunhou a era de ouro de Além da Imaginação (The Twilight Zone) mas reconheço que alguns episódios são realmente impactantes. A indicação de Black Mirror entrou nessa lista uma vez que nem o longa Bandersnatch nem a 5a temporada empolgaram tanto mas – lembrando que não há relação sequencial entre os episódios – temos a possibilidade de revisitar alguns que (na minha humilde opinião) não pesam tanto a mão na obscuridade:
- S01E01 – The National Anthem: Uma chantagem que debocha dos serviços de inteligência ao mesmo tempo que evoca um dilema ético. E a penosa conclusão de que tudo seria diferente se conseguíssemos apenas desligar a TV. É, definitivamente, o cartão de visitas da série.
- S01E02 – 15 Million Merits: A geração de energia, a cadeia de produção e nem mesmo as relações interpessoais ou de consumo não são mais os mesmos. Nesse mundo, o conteúdo digital e os reality shows são o que importa.
- S02 – Especial de Natal: White Christmas – Uma vez já estabelecida e tendo sua prerrogativa já conhecida, a série se deu ao luxo de montar um especial de 90 minutos com Jon Hamm e três abordagens diferentes e interdependentes de artifícios tecnológicos frente às consequências das escolhas que fazemos ao utilizá-los.
- S03E04 – San Junipero: É o episódio mais fofo da série, sobre memórias (ou nostalgia) e o processo de envelhecimento. O preferido entre os chorões (como eu).
- S04E01 – USS Callister: Numa paródia declarada de Star Trek, um gamer recluso e ressentido cria um alter ego todo poderoso que “escraviza” clones digitais (porém sencientes) de seus colegas de trabalho. Questões como sexismo e assédio moral são levantadas no episódio que foi bastante criticado justamente por ser “mais divertido do que obscuro”.
- S04E04 – Hang the DJ: Talvez o episódio mais leve de toda a série, com um tanto de otimismo e até romantismo. A narrativa se dá em torno de um app de encontros com um algoritmo praticamente perfeito, personagens carismáticos e um final lírico e até um tanto surpreendente.
- S04E06 – Black Museum: Se “The National Anthem” é o cartão de visitas, “Black Museum” é o fim de um ciclo. É o único episódio que fica muito melhor se visto depois de toda a série pois é recheado de easter eggs, referências às realidades apresentadas em vários episódios. Apesar de momentos um tanto macabros, a narrativa não é tão similar às anteriores e o final dá uma sensação de redenção ao espectador que vibra com a protagonista construída por Letitia Wright.
13) The Twilight Zone
Já que falamos dela, é possível “mineirar” alguns episódios online desta série épica, seja sua versão clássica dos anos 60, com seu criador Rod Serling atuando como apresentador e narrador, a versão de 2002 com apresentação de Forest Whitaker ou até mesmo a versão atual que estreou em 2019 e tem Jordan Peele como produtor, apresentador e narrador. A dinâmica é sempre a mesma: cada episódio apresenta um conto independente, no qual os personagens lidam com eventos perturbadores, incomuns e até mesmo surreais, numa experiência que estaria “Além da Imaginação” geralmente com um final surpreendente ou até mesmo uma espécie de moral da história. Embora predominantemente de ficção científica, os eventos paranormais e kafkaescos do programa inclinaram o show para a fantasia e o suspense.
No Dailymotion é possível encontrar vários episódios da série clássica enquanto que no Youtube a gente consegue assistir alguns episódios com o Whitaker. Aliás um deles é com a Katherine Heigl e envolve uma tentativa de assassinar o bebê Hitler. Já a nova versão com o Jordan Peele está disponível no Amazon Prime.
12) Misfits
Misfits é mais uma produção britânica que mistura drama e ficção científica. Conta a trajetória de um grupo de jovens infratores condenados a trabalhar em um programa de serviço comunitário e que ganham poderes sobrenaturais após uma estranhíssima tempestade elétrica. Entender a relação dos poderes adquiridos com a personalidade e os traumas de cada um assim como eles passam a se comportar depois da tempestade é obsessivamente viciante. Agora um aviso: vale cada minuto apenas até a 2a temporada. Um acontecimento no último episódio desta temporada muda radicalmente a premissa maneiríssima da série e a partir daí (ao menos para mim) ela perde o apelo.
11) Firefly
Um típico faroeste espacial que foi ao ar entre 2002 e 2003, Firefly foi cancelada após a exibição de 11 dos 14 episódios produzidos e deixou órfã uma horda fãs em todo o mundo. A série se passa no ano de 2517, após a chegada dos humanos a um novo sistema estelar e segue as aventuras de uma tripulação composta por nove renegados que vivem a bordo da Serenity. Firefly gerou um longa (em 2005), ganhou continuidade nos quadrinhos, virou um ambiente de RPG e nos apresentou Nathan Fillion, Alan Tudyk, Summer Glau, Gina Torres e a brasileira Morena Baccarin.
10) Daredevil / Jessica Jones
Que o universo Marvel vai muito além de Os Vingadores eu nem preciso falar. Apesar do crossover Defensores não ter feito lá grande sucesso entre os fãs (ardorosos ou não), as duas primeiras temporadas de Daredevil e a primeira de Jessica Jones valem demais um lugarzinho em nossos corações. O primeiro destaca-se por sua fidelidade aos quadrinhos e uma produção primorosa. Já Jessica Jones é uma anti-heroína complexa e com um mal-humor cativante plenamente compatível com a estética noir que a Netflix deu à série. E ainda tem Carrie-Anne Moss e David Tennant, de quem a gente nem precisa fazer propaganda, certo?
9) The Man in the High Castle
Você consegue imaginar um mundo onde a Alemanha e o Japão tenham vencido a 2a Guerra Mundial? Pois não precisa mais fazer força. Podemos conhecer essa distopia em 40 episódios de uma produção gigantescamente primorosa. Onde entra a nerdice? Trata-se de um mundo paralelo e o tal Homem do Castelo Alto é justamente o guardião dessa verdade, o cara que possui fitas de vídeo da nossa realidade e que comanda todo um esquadrão de resistência que consegue transitar entre os dois mundos. A protagonista é meio chatinha (talvez o ponto fraco da série), mas releve: produção é deveras desbundante.
8) Battlestar Galactica
Entre 2003 e 2009 viajamos a bordo da Galactica, o único veículo militar em meio a uma frota civil com os últimos humanos da galáxia que sobreviveram ao ataque dos Cylons contra as 12 colônias. Na busca pela lendária Terra, esse novelão sci-fi é cheio de reviravoltas e personagens maravilhosos! São só quatro temporadas e eu duvido que você consiga revisitar apenas a primeira.
7) The X-Files
Mulder (o crédulo) & Scully (a cética) juntos para desvendar casos misteriosos que o FBI não deu conta e – ao contrário do que alguns incautos podem pensar – não apenas referentes a aliens: fenômenos paranormais, criptos, mutantes, ficção científica, monstros e até fenômenos religiosos.
Puro suco da melhor estética pop culture anos 90. Aqui cinco episódios para matar as saudades:
- S01E01: Piloto
- S05E12: Bad Blood
- S03E04: Clyde Bruckman’s Final Repose
- S03E20: Jose Chung’s “From Outer Space”
- S02E20: Ice
6) Vikings
A gente fala de Vikings e a primeira pergunta que sempre nos fazem é: “mas é tipo Game of Thrones”? Felizmente o leitor do PCN sequer cogitaria fazer uma pergunta dessas. Ele certamente seria o cara ao nosso lado com quem trocaríamos aquele olhar de cumplicidade fazendo meneios condescendentes com a cabeça. Outra pergunta que sempre ouvimos é: “mas é verdade que a série é historicamente coerente?”. E é aí que baixamos a guarda e começamos a rasgar elogios. Não que a resposta seja sempre sim a esta questão mas existe uma boa parte da narrativa que é sim aderente a alguns registros históricos e costumes da cultura nórdica. Trata-se de uma produção de TV que não deve nada às mais cinematográficas produções de Hollywood. Religião, paganismo, geopolítica, guerras, alianças e traições: tudo banhado a muito, muito, muito sangue.
Se você nunca se animou a acompanhar essa viciante saga sangrenta, procure a primeira temporada. Se quer apenas revisitar, aqui nossos episódios preferidos:
- S01E02 – Wrath Of The Northmen
- S02E01 – Brother’s War
- S03E06 – Born Again
- S04E10 – The Last Ship
- S04E19 e 20 – On The Eve and The Reckoning
- S05E17 – The Most Terrible Thing
- S05E20 – Ragnarok
5) Legion
Falar de Legion é complicado por demais! Personagens que teriam sido abandonados do universo X-Men, com uma estética um tanto kubrickiana e cenas que – sem exagero – podem lembrar Bollywood. Uma coisa linda, sério! Legion não quer ser fiel aos quadrinhos ou a nenhuma mitologia específica, sua única ambição é ser uma ode à cultura pop em si. Desde X-Men vemos que mutantes sofrem preconceitos que podem ser empaticamente aplicados a casos de racismo, xenofobia ou mesmo sexismo. No caso de Legion, a mutação é tratada como doença mental e explora as desvantagens de ser excepcional: “Quem nos ensina a ser normais quando somos únicos?”
São três temporadas e 27 episódios no total. Confira lá. Baita produção.
4) Sherlock
Só havia uma forma de deixar o personagem de Sir Arthur Conan Doyle melhor: entregá-lo a Mark Gatiss e Steven Moffat. Essa série é um espetáculo! Um Sherlock Holmes vivendo numa Londres moderna e fervilhante, personificado pelo jovem Benedict Cumberbatch e tendo Martin Freeman como Dr. Watson. Impossível não curtir. Cada episódio é um longa metragem e por isso cada temporada tem apenas 3 ou 4 episódios. Casos clássicos registrados na icônica 221b Baker Street são adaptados à modernidade com uma maestria incrível e uma estética impecável, do primeiro ao último episódio.
3) Orphan Black
Tatiana Maslany clonada muitas, inúmeras vezes. Eu nem precisaria dizer mais nada para te convencer a conhecer ou revisitar Orphan Black. Entre 2013 e 2017, foram 50 episódios que versaram sobre questões de ética e identidade numa trama densa repleta de plot twists. O ponto baixo (se é que posso falar assim) está na 3a temporada quando a narrativa dá uma rateada, mas os caras (e os clones) reencontram suas origens na 4a temporada e, na 5a e última temporada, as devidas conclusões fazem desta série um clássico imperdível do mundo da ficção científica.
2) Doctor Who
Sim, eu sou whovian. Logo não deixaria Doctor Who de fora dessa lista nem sob a ameaça de perdigotos contaminados. A saga interminável (que estreou em 1963) de um Senhor do Tempo praticamente imortal (ele não morre, apenas se regenera numa nova versão física com uma nova personalidade) que navega pelo tempo e espaço mantendo o universo em ordem fala muito sobre humanidade e sobre a humanidade. Idas e vindas alucinantes, muitos aliens e guerras entre povos e planetas seriam, inlcusive, a explicação para vários eventos históricos assim como encontros com personagens marcantes da história mundial. A 12a temporada da retomada ainda está no ar e é a segunda onde temos uma Senhora do Tempo. O que todas as personalidades do Doutor tem em comum? Sua fé inabalável na humanidade.
Meus episódios preferidos? Na ponta da língua, por temporada:
1a) The Empty Child/The Doctor Dances (óbvio)
2a) The Girl in the Fireplace (mas super empatado com School Reunion e The Impossible Planet/The Satan Pit)
3a) Blink* (óbvio)
4a) Silence in the Library/Forest of the Dead (com menção mais que honrosa para os especiais Tennant: The End of Time Part I/Part II)
5a) Vincent and the Doctor* (óbvio)
6a) A Good Man Goes to War
7a) Fiquei entre Asylum of the Daleks, The Angels Take Manhattan e Nightmare in Silver, mas fui de The Day of The Doctor. Temporada incrível. Definitivamente, a pior temporada para escolher favorito!!!
8a) Last Christmas
9a) Face the Raven
10a) The Lie of the Land e Twice Upon a Time
11a) The Woman Who Fell to Earth
(*) A propósito, Blink e Vincent and the Doctor são sempre as minhas recomendações para quem nunca se aventurou no universo whovian.
1) Good Omens
A adaptação do livro de Neil Gaiman e Terry Pratchett é sem dúvida umas das melhores coisas que tivemos na cultura pop nos últimos anos. Além da fidelidade ao livro (para a felicidade dos fãs), a minissérie tem muito mais do que uma mera comédia de erros em meio a uma corrida contra o Armagedon! Tem Michael Sheen e David Tennant de protagonistas, Jon Hamm, Miranda Richardson, Michael McKean além de Mark Gatiss, Brian Cox e das vozes de Benedict Cumberbatch e Frances McDormand.
Apesar de ser um tema recorrente nas telas, o Armagedom de Gaiman e Pratchett é singular por vários motivos. Primeiro, pelo lirismo cômico e frenético da narrativa ambientada numa produção que traz a nata da mais clichê estética britânica. Além disso, mesmo com a diferença de trinta anos entre o livro e a série, a desculpa perfeita para o apocalipse segue sendo a incapacidade humana de cuidar do planeta fazendo com que o argumento base da história siga sendo pertinente.
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